''O RÁDIO É A ESCOLA DOS QUE NÃO TEM
ESCOLA.''
PINTO, Roquette.
Edgar Roquette-Pinto (1884 - 1954) foi
um médico legista, professor, escritor, antropólogo, etnólogo, ensaísta
brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e é considerado o pai da
radiodifusão no Brasil. Ele percebeu no ano de 1922, a importância do rádio
como a forma de comunicação popular e democracia cultural em nosso país
(Brasil).
Passeando um pouco pela história...
Em 1923, Roquette-Pinto sensibilizou
com suas idéias o presidente da Academia Brasileira de Ciências e fundou, em 20
de abril daquele mesmo ano, a primeira estação de rádio no Brasil, chamada
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, instituição de caráter educativo-cultural
que funcionava como uma sociedade real, sobrevivendo das doações de seus
sócios. Anos depois, para não transformá-la em um veículo comercial,
Roquette-Pinto preferiu doá-la ao Ministério de Educação e Cultura, local onde
nascia a atual Rádio MEC.
Dois anos depois realizou as primeiras
demonstrações televisuais no Brasil. No ano de 1934 fundou a Rádio Escola
Municipal do Rio de Janeiro, com caráter educacional. Já em 1946, a Rádio
Escola passou a se denominar Rádio Roquette-Pinto. Alguns anos depois ele
faleceu (1954).
A unificação linguística do país
começou pela Rádio Sociedade, mas nem todos sabem disso!! Assim, apesar de
transmitir uma programação cultural, também foi o berço da idéia do rádio
educativo amadurecida enquanto Roquette-Pinto era seu diretor, e que estava
pronta, quando ele doou a estação ao governo.
Durante seus 13 anos de existência, a
emissora manteve uma programação eminentemente “cultural”, e, demonstrando que
cultura também “educa”, “ensinou” poesia, literatura e ciência, “educou”
ouvidos para a música de concerto e “deu as primeiras aulas” de pronúncia
padrão brasileira da língua portuguesa.
Para entendermos melhor o contexto
histórico do Rádio, dividi em cinco momentos:
- 1º momento - 1920: Houve uma tentativa de
educar a população para a cultura erudita;
- 2º momento - 1930: Formação de mão-de-obra
para atender à economia nacional, alterando a concepção de educação,
ensinando técnicas de uso prático;
- 3º momento - 1940: Os ideais patrióticos foram
incorporados devido a Guerra Mundial;
- 4º momento - 1960: Com o fim do populismo e a
morte de Getúlio Vargas, a educação passa a ser vista como mobilização
política, o que acaba mudando com a opressão durante o período da Ditadura
Militar. Nesse contexto a educação ganha um caráter tecnicista, sem muita
reflexão;
- 5º momento - Década de 90: surge com mais
força as TIC's com intuito de fortalecer uma formação para leitura mais
crítica das tecnologias. Nesse momento o rádio é visto como um potencial à
educação, embora com perspectivas diferentes. De modo geral, o contexto
muda a expectativa de formação dos cidadãos sendo refletido no Rádio.
Já no final do séc XX e início do XXI, começa a
crescer as discussões sobre os meios de comunicação em massa na educação,
sobretudo o rádio, que será o foco da postagem. É certo que houve
intencionalidades fortes nessa linha do tempo, a mídia era utilizada para fins
específicos e que se adequavam ao contexto e utilizados como manipulação da
massa.
Alguns impasses da implantação da Rádio
no ambiente escolar:
O governo criou programas de formação
de professores para o uso das Tecnologias de Informação e comunicação-TIC’S e
utilizou formatos midiáticos para tal capacitação, por meio de uma educação
tecnológica à distancia. No entanto, poucos se apropriaram dessa oportunidade
apesar de ter tido um número significativo de docentes capacitados.
Aproveito para falar também sobre um
Projeto chamado Educom.rádio - Educomunicação pelas ondas de rádio, um curso de
extensão desenvolvido em 2001 pelo núcleo de Comunicação e Educação na
Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo oferecer cursos de capacitação
para elaboração de uma programação radiofônica para professores da rede
municipal de ensino.
Outro fator durante algumas pesquisas
de experiências da sobre implantar Rádio nas escolas é que muitas delas não
possuem custo para tal ação. Destaco que inúmeras recebem o apoio de
organizações não governamentais como a de Universidades e algumas prefeituras,
dentre outras que trabalham na criação de emissoras que denominam de CI
(Circuito fechado). Ou seja, o que importa não é a qualidade da transmissão de
uma rádio e sim o protagonismo dos discentes.
Não necessariamente se necessita grandes
investimentos para organizar uma rádio escolar. É possível fazer isso de forma
bem simples, com apenas um microfone e uma caixa de som. Mas claro, é possível
também montar um estúdio de rádio na escola. Aí depende dos recursos que a
escola possui. No entanto, o importante é que tanto a mais simples como a mais
elaborada possibilitam experimentações radiofônicas bastante significativas
para a formação dos estudantes. Basta ter uma proposta pedagógica. (BONILLA, 2018)
Sabemos que as mídias ocupam um espaço
central na sociedade, porém o acesso a elas ainda é desigual. Super complicado!
Durante a leitura do artigo ''O rádio a serviço da Educação Brasileira: Uma história de
nove décadas.'' a autora (Roseane Andrelo) afirma
que: "A Educação pelas mídias é
acrescida da educação às mídias", ou seja, ela argumenta que além de
aliar as mídias disponíveis (o rádio, a TV, o computador etc) à educação é necessária
uma formação sobre a própria mídia.
Pedindo
licença à professora Maria Helena Bonilla, líder do Grupo de Pesquisa
Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC) - FACED/UFBA, inverteria tal afirmativa: "A Educação às mídias é acrescida da
educação pelas mídias''. Nessa modificação, fica em evidência a importância
maior relacionada as dificuldades de aceitação da mídia de forma mais
naturalizada e contextualizada.
Na frase da autora (ANDRELO,2012), é colocada
a educação técnica do que seja a mídia em segundo plano, já na da professora Dr.
(BONILLA,2018) em primeiro. Todavia, acredito que ela (Bonilla) coloca em destaque
que a formação sobre as tecnologias contemporâneas devem fazer parte do
conteúdo curricular dos alunos e da formação dos professores, isso significa
que não deve ser apenas uma pequena parcela do processo de formação que pode
ser alocada em qualquer momento, mas sim o processo em si. Nessa perspectiva,
traz à tona o conceito de currículo hipertextual que dá margem de escolhas
múltiplas durante a trajetória do educador e do educando.
Conclusão...
O acesso a informação é um direito de
extrema importância em que o indivíduo pode se apropriar, compreender e se
movimentar dentro da sociedade de acordo com sua realidade/contexto. O rádio é
o meio de comunicação de massa mais popular, muitas vezes, o único a levar a
informação e o entretenimento para populações que não têm acesso a outros
meios.
Na minha concepção, as tecnologias de
informação e comunicação ocupam um papel significativo na sociedade atual. Além
disso, por ser simples e de fácil acesso não só deve como pode ser usado como
ambiente pedagógico. Tal estratégia pode gerar reflexões mais críticas e ajudar
na coesão de idéias desses alunos, enriquecendo o vocabulário e estimulando a
expressão escrita. A utilização de uma educação radiofônica melhora também as
relações interpessoais e intrapessoais ampliando e preservando os saberes
constituídos. O indivíduo acaba se tornando protagonista na rede escolar se
envolvendo mais com o conteúdo e promovendo conhecimento por meio desse
aprendizado.
Cabe a educação formal a sistematização
e a reflexão sobre os aprendizados que as mídias digitais, sobretudo o rádio,
pode oferecer para além do espaço da sala de aula convencional. O papel da
escola deve ir além dos conteúdos escolares trabalhados de forma estanque e
muitas das vezes não possui nenhuma ligação com a realidade dos alunos ao que
se tange os aspectos socioeconômico, político e cultural. Ou seja, em contextos
cada vez mais complexos. Dessa maneira, mais do que programas educativos pela
rádio, é essencial transformar tais mídias e toda a rede em contexto educativo,
situação esta que possibilita o aluno a ter outros olhares sobre si mesmo, o
mundo, as tecnologias contemporâneas e principalmente saber olhar e analisar
criticamente o que lhes é imposto.
Referências
ANDRELO, Roseane. O rádio a serviço da Educação Brasileira: Uma história de nove décadas.
Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.47, p.139-153 Set.2012 - ISSN: 1676-2584.
Disponível em <https://www.researchgate.net/publication/312646806_O_radio_a_servico_da_educacao_brasileira_uma_historia_de_nove_decadas>
http://www.fm94.rj.gov.br/index.php/controladorhistorico
A inversão que propus para a afirmação de Adrelo significa que é fundamental compreendermos as mídias - sua linguagem, os interesses que estão em pauta, as ideologias que atravessam cada emissora, sua abrangência, o que significa ir além do uso das mídias para ensinar conteúdos escolares, ir além do uso instrumental. No contexto brasileiro, hoje, precisamos formar cidadãos críticos, que compreendam o complexo sistema midiático.
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