MEMES: A
ARMA DA REVOLUÇÃO!
A
linguagem, como sistema de comunicação é a base das interações e das relações
humanas e sofreu algumas mudanças ao decorrer dos tempos. A partir do advento
da pós-modernidade, e consequentemente o da era digital, múltiplas práticas e
realizações sociais vêm sofrendo modificações tornando a língua mais dinâmica, versátil,
flexível e atrativa.
Os textos mêmicos carregam em si mensagens que são decodificadas pelos cérebros receptores, analisadas, interpretadas, adotadas e, por vezes, replicadas, tal que, ao se familiarizarem com a linguagem contida no componente a ser replicado, estarão dialogando de certa maneira com o criador do “meme”, ou mesmo com os partícipes das mesmas interações de transmissão de ideias. É a linguagem enquanto fenômeno social, como prática de atuação interativa. (SOUZA, 2001 p.134).
O termo meme é derivado da palavra grega Mimeme
(imitação), foi criado pelo Zoólogo Richard Dawkins e definido no seu livro “O
Gene Egoísta” (1976), como uma unidade de transmissão cultural entre os
humanos. Podemos conceituar os memes como uma espécie de charge contemporânea
de expressão criativa que imprime uma reflexão sobre o universo que estamos
imerso. Ou seja, são imagens, vídeos, que se espalham e se reformulam
maciçamente pelos meios de comunicação e entre as pessoas.
É notório que haja
certo preconceito em relação ao uso desse recurso pelo simples fato de ser
considerado muito fácil de fazer e/ou reproduzir, quando comparado, por
exemplo, com uma charge, que tem elementos artísticos intrínsecos e mais
técnicos. Hodiernamente, por meio das mídias digitais nós podemos registrar,
buscar e principalmente compartilhar em escala global tais memes. Por isso, em
rede tudo que falamos e praticamos no cotidiano tem a capacidade de virar meme.
“A internet fornece base material que permite a esses movimentos engajarem-se na produção de uma nova sociedade. Ao fazê-lo, eles transformam por sua vez a internet: de ferramenta organizacional para empresas, ela se converte também numa alavanca de transformação social. [...] se alguma coisa pode ser dita, é que a internet parece ter um efeito positivo sobre a interação social, e tende a aumentar a exposição a outras fontes de informação.” (CASTELLS, 2003, p. 102)
Castells concebe a internet como uma ferramenta
fundamental para a transformação social, não só apenas para fins comerciais.
Com o surgimento das mídias e redes sociais, potencializamos a comunicação e
ampliamos então o nosso processo de socialização, gerando não apenas uma
interação entre os agentes envolvidos no sentido de compartilhar conhecimentos,
mas também o engajamento em questões políticas, sociais e culturais
contextualizadas de acordo com a característica do espaço e dos problemas
evidenciados nele.
Os memes presentes na internet podem ser encontrados
em formato de imagem, vídeo, texto ou aúdio – ou ainda em uma combinação de
várias plataformas. São utilizados como
ferramentas de análise crítica da realidade encontrados na forma de
elementos textuais, normalmente de humor, que atuam na transmissão de
conhecimento sobre determinado assunto ou situação específica. Possuem características particulares: são fiéis a uma
realidade que depende do contexto em que o indivíduo está inserido. Por isso,
precisam que pessoas viabilizem tais compartilhamentos, possuem vida
extremamente curta visto que com o dimensionamento rápido das informações
possibilitadas pelo avanço da tecnologia faz surgir novas criações ‘mêmicas’. Eles são compartilhados, pois servem como moeda
social, capaz
de dar visibilidade a algo ou alguém, contar sobre determinado assunto de
maneira simples e curta mexendo com as emoções do público que os consomem
gerando significativas reflexões.
MEMES E EDUCAÇÃO
- Como trazer o universo da cultura digital para dentro da escola?
Essas expressões de internet (memes) podem ser utilizadas em sala de aula como ferramenta didática ou até mesmo para uma melhor interatividade e aproximação da relação professor versus aluno. “O meme articula a escrita, a leitura e a reflexão. Foge das técnicas de ler puramente escolares, suscitando compreensão de múltiplas funções sociais da leitura no aluno”, opina a professora e pós-graduanda em ensino e aprendizagem de língua portuguesa, Nathalia da Cruz Peres. Ou seja, o aluno passa a ter uma maior capacidade de exercer suas habilidades de criação e construção de conhecimento.
O Meme por sua vez exerce uma função política que ajuda a questionar os problemas sociais e os eventos cotidianos gerando uma reflexão humorística ou não sobre determinados aspectos culturais. “O meme é gênero textual caracterizado pela associação de uma imagem e uma frase, que geralmente significam e ressignificam o contexto social. Assim, priorizam a interpretação textual”, ensina Peres. Acredita-se que a partir desse conceito a interpretação textual do aluno o permite ter uma visão mais ampliada do mundo tornando-o um ser mais crítico, entretanto, a escola que possui essa obrigação acaba não oportunizando espaços para que se repense as questões sociais com, por exemplo, o racismo, a homofobia, a misoginia, entre outras mazelas.
A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos desconhecimento produzidos por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas (BRASIL, 1998, p. 31).
Os memes podem ser uma ferramenta educacional interdisciplinar útil para promover o letramento digital e trabalhar temas relacionados à atualidade, envolvendo desde as disciplinas de humanas até as de exatas, pois o intuito é a criação de mensagens rápidas que denunciem, informem ou exerçam o papel reflexivo sobre elementos do cotidiano de maneira inteligente.
Alguns educadores ainda oferecem certa resistência ao uso deste novo conceito educacional. Porém, os memes possuem caráter fortemente intertextual que podem ser entendidos por diversos grupos sociais e utilizado de forma interdisciplinar, como já foi exposto. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: O Meme ainda possibilita trabalhar com o estudo e a leitura de imagens,
uma vez que não é possível produzir e compreender um meme sem primeiro aprender a interpretar imagens e textos sincrético (simulacros do mundo natural). Além disso, essa ideia está atrelada a competência do educando de ler e interpretar o mundo que o rodeia, um dos benefícios da utilização dessa ferramente na educação.
Nesse sentido os discursos proliferados por meio de Memes nas redes que relatam os problemas, as questões sociais e as demandas educacionais presentes no nosso contexto, carregam em si as vozes dos sujeitos indignados e inconformados com o que vivenciam. Por isso, se torna necessário criar outros espaços, criar abordagens
alternativas que nos ajudem a confrontar
e a ressignificar a nossa ação como educadores
e aprendizes. Isso requer ousadia para compreender que a educação digital possibilita uma visualização crítica e ampliada do mundo que estamos imersos.
Compartilho com vocês um vídeo bastante interessante da Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, que tem a missão de "inspirar inovações que ampliem a equidade, qualidade e relevância da educação para os estudantes brasileiros". Fala sobre a importância da tecnologia no espaço educacional e suas implicações dentro da sociedade, colocando em evidência que a a mesma não substitui o professor, mas o torna empoderado!
Criei alguns memes sobre as eleições 2018:
Agora que você já sabe de tudo isso, que tal criar seus próprios memes?
- www.gerarmemes.com.br
- imgflip.com/memegenerator
REFERÊNCIAS
- COELHO,Clícia. QUE HISTÓRIAS OS MEMES PODEM NOS CONTAR?PEDAGOGIAS CULTURAIS E CURRÍCULO.
- DIAS, Felipe; TELES, Natalia; KARIME, Pethalla; GROHMANN, Rafael. Memes, Uma Meta-análise: Proposta a Um Estudo Sobre As Reflexões Acadêmicas do Tema. XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro, 4 a 7/9/2015.
- GUERREIRO, Anderson. SOARES, Maria Machado Neiva. Os Memes vão além do humor: Uma leitura multimodal para a construção de sentidos. Texto Digital, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 12, n. 2, p. 185-208, jul./dez. 2016. ISSNe: 1807-9288
- VALE. L., CHRISTOVAM. L. Educomunicação: o meme enquanto gênero textual a ser utilizado na sala de aula. Acesso em 19 de março de 2018.
- 10senhando.blogspot.com
- www.institutonetclaroembratel.org.br/educacao/nossas-novidades/reportagens/memes-ajudam-a-desenvolver-interpretacao-de-texto-e-pensamento-critico/
- http://porvir.org/sucesso-nas-redes-sociais-memes-tambem-podem-ensinar/
Fiquei pensando no título da tua postagem. Onde está e qual é a arma da revolução, num contexto em que tudo é apropriado para todos os fins, dos mais éticos e libertários aos mais preconceituosos e controladores? Tudo hoje, e especialmente as tecnologias digitais, pode ser utilizado para atender aos mais diversos interesses, justamente por sua platicidade, sua abertura à manipulação e ao registro, sua capacidade de disseminação instantânea. Então precisamos estar, mais do que nunca, atentos e vigilantes ao que acessamos...
ResponderExcluirDepende da maneira que cada indivíduo se apropria dessa construção e das demais que as mídias digitais nos proporcionam.Penso nos memes como uma 'arma da revolução' sendo percebidos e analisados de uma maneira mais séria e reflexiva. Não damos a atenção necessária a eles e sempre associamos à 'brincadeira", entretenimento (humor) e afins. Claro que não é a única forma de mudar ou refletir sobre nossas realidades, existem outras! Sei também que nossas relações são heterogêneas por sermos diferentes, mas a meu ver é possível uma educação mais efetiva relacionada a uma concepção crítica mais abrangente através dessa estratégia (utilização de memes), evidenciando nosso contexto. Obviamente, ainda sim podemos ser 'manipulados'... No entanto, é necessário também uma avaliação crítica! Infelizmente, no meio digital estamos vulneráveis em vários aspectos, porém se nós não vivenciarmos um cotidiano crítico por meio de uma educação tecnológica da contemporaneidade seja ela escolar e/ou acadêmica também crítica e contextualizada, até os próprios memes tem nesse caso a sua forma 'revolucionária' descartada. É meio louco e complexo... Só sei que só podemos reverter isso com luta, engajamento político e principalmente paciência para desconstruir alguns paradigmas que se perpetuam sobre as mídias digitais. :/
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