FONTE: https://br.simplilearn.com/real-impact-social-media-article
Gênero digital e o conceito de multimodalidade: Aproximações e Afastamentos entre a escrita Escolar e Virtual
INTRODUÇÃO
Como pedagoga em formação na Universidade Federal da Bahia - FACED, tenho vivenciado experiências interessantes com os Componentes Curriculares nesse semestre (2018.2), em especial, gostaria de fazer uma discussão entre estes dois componentes: Educação e Tecnologias Contemporâneas ministrada pela profª Maria Helena Bonilla e Linguagem e Educação pela profª Giselly Lima.
Nesta postagem vou desvendar aproximações e afastamentos entre a Escrita escolar e Virtual, refletindo criticamente sobre a linguagem normativa da escola que tem sido atravessada
pelas linguagens dita 'informais', que ocorre virtualmente nas redes e
aplicativos, fenômeno social este, que é fruto da síntese de múltiplos fatores históricos relacionados ao crescimento da
tecnologia e a aproximação dela com os espaços escolares.
Realizei um breve levantamento bibliográfico acerca dos conceitos da sociolinguística,
o qual se busca analisar a língua no seu uso social multiletrado discutindo a possibilidade de articular diferentes modalidades de linguagem,
trazendo à tona as mudanças sociais e tecnológicas ocorridas atualmente, buscando compreender que a multiplicidade de linguagens também está presente nas
práticas sociais, assim como a escrita.
Antes de fomentar a reflexão gostaria de agradecer aos meus colegas da disciplina Linguagem e Educação que se empenharam junto comigo para realização desse trabalho em forma de seminário e que refletiu nesse mini paper. São eles: BEATRIZ OLIVEIRA, FERNANDA RIBEIRO, HENARI LIMA e VITOR RAFAEL.
Comecemos...
ESCRITA ESCOLAR E ORALIDADE
Dentro do ambiente escolar a língua escrita é admitida como norma, padronização, de modo a basear as descrições sintáticas, pois “o oral espontâneo é ainda muito frequentemente considerado como subproduto da linguagem, conforme testemunha a atitude que a gramática tradicional adota diante daquilo que considera como as ‘falhas’ características da fala cotidiana”. Ou seja, a escrita da escola ela não é maleável pois se pauta num engessamento em que as barreiras entre a escrita e a fala precisam ser
Nesse contexto, Saussure, (oba) o prestígio da escrita pode ser explicado por alguns fatores:
a) ficamos impressionados com a permanência e solidez da escrita;
b) as impressões visuais são, para muitos, preferível às acústicas, pois mais duradouras e nítidas;
c) a Literatura e o Ensino, em geral, elevam a importância da escrita.
d) a ortografia confere importância à escrita;
e) diante de desacordos entre a língua escrita e a falada, as normas daquela prevalecem sobre essa, decaindo sobre a escrita demasiada importância.
É bem verdade que conhecer e reconhecer a aceitabilidade de um comportamento linguístico implica em certa proximidade com a cultura do outro. No mercado escolar, por exemplo, espera-se por um “legado histórico”, que se utilize a variante de prestígio social, embora o dialeto culto não seja o vernáculo propriamente falado pela maioria dos nativos em situações naturais (Tarallo, 2007, p.19). Nessa perspectiva, “uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais” (Gnerre, 1985, p. 4).
Diante disso, os recursos da escrita se sustentam nas relações de poder na qual quem quaisquer formas de escritas fora da gramática normativa são aniquiladas e discriminadas dentro da sociedade.O conceito de variação linguística surge a partir do momento em que as marcas da língua denominam as instâncias dos atores históricos e culturais. Ou ainda, emergem da necessidade de dizer que não existe nem certo e nem errado e sim o diferente da gramática normativa e que deve ser respeitado por conta das modificações sofridas que envolvem aspectos sociais, culturais, socieconômicos e afins.
A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM ESCRITA VIRTUAL NA LINGUAGEM ESCRITA CONVENCIONAL
Mas, o que a internet tem a ver com tudo isso?
Com a chegada tecnologias e a evolução da TIC's (Tecnologia de Informação e Comunicação) é visível o quanto isso veio modificando a escrita e a leitura inclusive no ambiente virtual através das redes sociais, buscando pela praticidade.Para falar de escrita é necessária uma reflexão sobre gêneros. Por isso, decidi trazer trazer uma concepção teórica de Marcuschi em que ele fala das diferenças entre texto e discurso presentes no processo, além disso, do gênero que se corporifica na historicidade e é maleável:
“[...] pode-se dizer que texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva.”Marcuschi (2008, p. 24)
[...] a análise dos gêneros engloba uma análise do texto e do discurso e uma descrição da língua e visão da sociedade, e ainda tenta responder a questões de natureza sociocultural no uso da língua de maneira geral. [...] Eles são um artefato cultural importante como parte integrante de nossa sociedade. Marcuschi (2008, p. 149)
Nesse sentido, trata-se do surgimento da tecnologia e a apropriação da escrita virtual como 'geradora' de novos gêneros, coloco entre aspas pois existem teóricos que refletem sobre tal tema relacionados aos gêneros digitais considerando-os transmutações de gêneros já existentes e que possuem caráter diverso no contexto da tecnologia digital.
Marcuschi (2004) citado por Pereira & Penha (2008, p. 4): “[...] Nem são estáticos, nem puros, são formações interativas, multimodalizadas e flexíveis de organização social que contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia.”
Nesse aspecto, considero que tal maleabilidade, dinamicidade e interatividade do texto na plataforma digital ganha novos significados e podem assumir um hibridismo de gêneros textuais que consistem na Multimodalidade. Tal conceito “[...] refere-se às mais distintas formas e modos de representação utilizados na construção lingüística de uma dada mensagem [...]” (DIONÍSIO, 2005; 2011; SILVINO, 2012). Daí a ideia de hipertexto que nada mais é do que "um conjunto de nós ligados por conexões" neles escolhemos o melhor caminho a ser percorrido durante a leitura que vai se modificando à estrutura do ambiente tecnológico. Todavia, esse nós que Lévy evidencia consistem em imagens, vídeos, músicas, sons e outras formas de comunicação de algo para alguém ou alguma coisa, que nos permitem mais interatividade com o texto e fluidez na escrita.
Outro exemplo é a linguagem virtual que se baseia na utilização de códigos próprios, os emojis são exemplos disso, as frases em caixa alta (expressam chateação e raiva), até palavras como "aff" que expressam aborrecimento, "kkkkk" (crise de risos), fazem parte dessas construções advindas do ''internetês'' que privilegia uma comunicação mais rápida e menos formal em que o adequaremos a depender de quem, como e onde emitiremos a mensagem.
FONTE: http://hardplus.com.br/blog/internetes-linguagem-mundo-virtual/
FONTE: http://davidovic.info/excited-emoji/
“Esta nova forma de escrita não pode ser considerado uma língua, mas somente uma nova forma de grafia para a comunicação ágil [...] Em resumo, trata-se apenas de grafia, nada mais que da grafia dos usuários do mundo digital.” (Possenti, 2010, p.60) Dessa maneira, o ato de ler/escrever foi apenas ressignificado pela dinamicidade da agregação de recursos multimodais aos gêneros digitais. Esse é o ponto chave!
MULTILETRAMENTO
Roxane Rojo, traz um conceito muito importante para entendermos a leitura e a escrita ressignificada pela tecnologia além da possibilidade de uma educação multiletrada que Significa pensar práticas escolares que levem em consideração um sujeito aprendente que está inserido em uma sociedade onde tudo que comunica é diverso. Portanto, a mesma compreende que o contexto letrado não é somente a codificar e decodificar o código alfabético e sim conviver e compreender as diversas linguagens que os cercam, tecnológica ou não, escolares ou não...
"O Brasil precisa de professores críticos, ousados, inovadores e motivados, que topem o desafio de repensar a divisão canônica disciplinar das escolas – que já comprovou não ser atrativa aos estudantes da atual geração – para implantar uma cultura de práticas de leitura e escrita voltada à formação crítica dos estudantes, capaz de criar novos sentidos numa sociedade hipermultimodal em constante transformação." (ROJO, 2005)
"Gravado em dois episódios, traz uma entrevista com Roxane Rojo, professora do Departamento de Linguística Aplicada da Unicamp.Ela fala do conceito de letramento; tipos e níveis de letramento; letramentos (no plural); práticas de letramento; e novos letramentos. Roxane retoma o conceito que surge nos anos 80 e fala de sua evolução, acompanhando a forma de uso das práticas de escrita e leitura na sociedade. Também aborda a questão da presença das múltiplas linguagens, a multimodalidade, nos textos que circulam hoje." Segue parte 1 e 2 respectivamente... Nos ajudará a refletir melhor sobre tais concepções percorridas até agora.
BLOG: Uma prática social da linguagem ...
Nessa perspectiva, escolhi como prática social da linguagem o uso do Blog que é um gênero textual digital veiculado na internet, bem parecido com as espécies de diários pessoais. Os blogs dão espaço para algumas formas de expressão da linguagem, em destaque coloco a escrita, evidenciando tanto a forma de processo (construção) ou produto (resultado).
Ao mesmo tempo, essa prática é uma forma mais leve e simplificada de tornar a escrita mais viva e passível de modificação. A palavra impressa torna-se imortalizada, havendo trocas entre os sujeitos mais diferentes montando uma rede interativa por afinidades e não por imposições. A minha ideia, na condição de professora, é fazer com que o aluno imprima a sua identidade e a partir do blog possa interagir, questionar e argumentar. Ou seja, fornecer subsídios para a construção de novos saberes. Além disso, o uso do blog envolve uma função social de educar e que forma o indivíduo para o contexto articulando outros saberes com a atuação do mundo.
A linguagem configura-se como uma prática social essencial no processo de formação do futuro educador tendo em vista que é por meio do processo de interação na/pela linguagem que o homem se constitui como sujeito e,portanto,torna-se um multiplicador de ideias. (BENVENISTE, 2008)
CONCLUSÃO
O conhecimento humano é perpassado por contextos sociais, culturais e materiais e o desenvolvimento dos estudantes ocorrem na interação colaborativa entrelaçando-se com a diversidade de contextos existentes. Desse modo, a escola deve está preparada pedagogicamente para as diversas linguagens e considerar os Multiletramentos, pois a mente humana é incorporada, situada e social.
A verdade é que de acordo com a compreensão dos posicionamentos das escolas, ora elas são mais abertas para o uso da tecnologia e suas variações linguísticas, ora mais fechadas. Concluo enfatizando que se faz necessário um amplo debate em relação ao crescimento da tecnologia e a aproximação das linguagens presentes nela, refletindo que os posicionamentos das escolas sejam cada vez mais próximos de compreender que na era da democratização da tecnologia e das diversas linguagens, também possam ser democratizados aos contextos presentes nos âmbitos escolares e, desse modo, encontrar possibilidades para que a interação possa ser feita sem maiores prejuízos aos sujeitos desses contextos.
REFERÊNCIAS
- ALMEIDA, Jadione Cordeiro de; OLIVEIRA, Josane Moreira de. Variação na escrita escolar: discurso, relação de poder e interação. Disponível em: <http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2011/11/Almeida.pdf>. Acesso em: 05 de dez. de 2018
- BRITO,Francisca Francione Vieira de. SAMPAIO, Maria Lúcia Pessoa Sampaio.Gênero Digital: A Multimodalidade ressignificando o ler/escrever.Santa Cruz do Sul, v.38,n.64,p.293-309,jan./jun.2013. Disponível em <http://online.unisc.br/seer/index.php/signo>
- CARMO, F.M.; MACHADO, L.M; MENEZES, T. D. O. A escrita virtual e sua interferência na escrita convencional. Sergipe, 2016.
- HALMANN, Adriane; BONILLA, Maria Helena. Reflexão entre Professores em Blogs: passos para novas educações . Revista Tecnologias na Educação. ano 1. n. 1, dez. 2009.
- LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. Cap X (pp. 157-167).
- https://ifettec.wordpress.com/2013/10/07/interferencia-das-redes-sociais-sms-bate-papos-online-etc-na-escrita-dos-alunos-interne
- MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
- RIBAS, E.; RIBAS, A; PINHO, D.S.; LAHM, R.A; A influência da linguagem virtual na linguagem formal de adolescentes. Rio Grande do Sul.
- ROJO, Roxane. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, J.L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (Orgs.). Gêneros: teorias, métodos e debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 184-207.
- STORTO, Letícia Jovelina; GALEMBECK, Paulo de Tarso. A escrita virtual influencia a escrita escolar?. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 1588-1597.
- http://edsonverba.blogspot.com/2015/05/aula-4-refletindo-sobre-redes-sociais-e.html
- Mowbray – SlidesCarnival.
Parabéns pelo texto Juliane. Gostei muito que você tenha articulado os estudos de duas disciplinas para produzir a reflexão. Esse tipo de prática deveria ser mais incentivada por nós professores, para que vocês possam aprofundar os estudos nas mais diferentes áreas do conhecimento.
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